10 maio 2017

Transtornos mentais relacionados ao trabalho acometem professores

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Uma tese de mestrado da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) mostrou como professores da rede estadual de ensino da cidade estão desenvolvendo transtornos psicológicos por causa da relação com o trabalho.

O resultado da pesquisa cita a presença da “síndrome de burnout” e depressão nos profissionais, causados por fatores que vão desde sobrecarga de tarefas até violência física e moral.

De acordo com a mestre em Psicologia que desenvolveu o estudo, Márcia Bastos Miranda, a ideia de focar neste assunto surgiu de reclamações de primos e da própria mãe, que são professores e sempre relatavam situações degradantes em salas de aula.

“Antes do mestrado eu já trabalhava também com Psicologia do Trabalho. Pelas reclamações deles, eu comecei a pensar em estudar essa classe, que é tão importante para a formação, e vi que é uma das que mais sofrem com os sintomas”, explicou.

A pesquisa durou aproximadamente um ano. Nesse período, Miranda contatou 46 docentes, usou três instrumentos quantitativos para relacionar os níveis de cada transtorno e fez entrevistas pessoais com alguns deles. Os profissionais reclamaram de baixos salários, falta de valorização e reconhecimento, baixa autonomia, infraestrutura e recursos, indisciplina e falta de interesse por parte dos alunos.

“O meu objetivo era fazer uma correlação, que foi determinada parcialmente. Só que na parte mais importante, que foram as entrevistas, percebi as causas das doenças e como elas podem estar ligadas com o aprendizado. Até que ponto a desmotivação (dos professores) não passa para os alunos, por exemplo? É preciso estudar também essa parte, porque acho que temos muito para fazer e isso (o estudo) pode ser o gatilho para que atitudes sejam tomadas. O problema é real, mas parece que não é tratado de forma séria”, destacou.

Algo comum em boa parte dos professores com distúrbios é a utilização de medicamentos anti-hipertensivos e psicofármacos, muitas vezes sem indicação de especialistas. A mestre ressaltou que, por mais que o tratamento psicoterápico seja difícil, é extremamente importante tê-lo como ponto de partida.

“Às vezes, os professores procuram um psiquiatra direto, que é um profissional muito importante, mas é preciso passar por um psicólogo antes. Existem clínicas que oferecem esses tratamentos de forma gratuita. É um processos lento, (o paciente) não vai melhorar de um dia para o outro, mas se ele reconhecer que precisa de ajuda e insistir naquele tratamento, há grandes chances”, afirmou.

A pesquisa foi realizada em parceria com o Sindicato dos Servidores da Educação do Estado de Minas Gerais (Sind-UTE). De acordo com a diretora da entidade em Juiz de Fora, Victória Mello, os resultados mostram a necessidade de estudar cada vez mais a saúde dos trabalhadores.

“Ela nos procurou e achamos muito interessante a proposta. Os resultados retratam problemas sérios e foi importante que uma pesquisa científica mostrasse isso. Falta estudo na área, mas esta não é uma questão que interessa ao governo divulgar, porque é uma consequência das péssimas condições de trabalho na área”, disse.

De acordo com Mello, o sindicato tem conhecimento dos transtornos, mas encontra dificuldades para ajudar a reverter a realidade. “Essa pesquisa dá visibilidade, porque nós mesmos já sabemos que isso acontece, vemos colegas no dia a dia precisando tirar licença médica, é uma coisa recorrente. Hoje, temos muito pouca possibilidade de ajudar, mas sempre colocamos esta pauta em discussão nas campanhas salariais”, afirmou.

A tese “Saúde emocional de professores das escolas estaduais de Juiz de Fora – MG: burnout, depressão e coping” foi defendida no Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFJF.

Fonte: G1.

Título Original: Pesquisa da UFJF avalia transtornos psicológicos em professores

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