08 abr 2016

Considerações sobre o conceito de “risco”

postado em: Coluna do Lenz

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Viver, uma aventura fatal!

Viver é uma aventura fatal! Sim! Fatal! Afinal, nenhum ser vivente sai desta aventura com vida. Cláudio Mascarenhas Brandão, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, em seus brilhantes ensinamentos repete sempre uma expressão curiosa: “risco da própria vida humana”, referindo-se aos riscos genéricos, que são inerentes à nossa própria existência. Assim, o risco de ser atingido por um raio ao caminhar pela rua, em especial no Brasil, o país com maior incidência de raios do mundo, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é um desses riscos, a que chamamos de riscos genéricos, cuja prevenção se restringe apenas àquela oração diária com o pedido de benção ao mesmo Deus que generosamente nos presenteou com a nossa própria existência. Mas, o risco de ser atingido pelo mesmo raio por alguém que trabalha no alto de um poste em manutenção elétrica já começa a perder o status de risco “genérico”, deixando de ser uma obra do mero acaso, afinal aumenta a sua probabilidade de ocorrência, elevando-o a uma condição de risco “específico”, exigindo dos responsáveis pela saúde e segurança do trabalhador ações que vão além da oração, pois aqui a exposição já apresenta um risco inerente ao trabalho (no alto de poste), ganhando uma especificidade. Assim, existem riscos que são inerentes à própria “vida humana” e riscos inerentes a certas “atividades humanas”, portanto passíveis de prevenção através de medidas de proteção. Como se pode ver, a linha que separa um do outro, risco genérico de risco específico, é tênue, ás vezes até imperceptível.

Mas, antes de separar um do outro é necessário entender o que é “risco”.

A “probabilidade” de algo acontecer pode receber nomes diferentes: se for algo ruim, é um risco; se for algo bom, é uma chance. Daí o que nos leva a dizer: risco de “morte”, ou de ficar doente; chance de “vida”, ou de ganhar na loteria. Portanto, risco é a probabilidade de algo de ruim acontecer, quando exposto a um “perigo”.

Ao contrário, chance é a probabilidade de algo de bom acontecer, quando exposto a uma “oportunidade”. Portanto, risco é o resultado da exposição ao perigo, enquanto chance é o resultado da exposição à oportunidade.

Logo se percebe que “risco e chance” são grandezas quantitativas, de tal maneira que quanto maior o número de apostas, maior será a chance de ganhar na loteria; ou ainda, quanto maior a exposição ao ruído, maior o risco de perder a audição.

Logo também se percebe que “perigo e oportunidade” são grandezas qualitativas, peculiares a cada uma, de tal maneira que o “perigo” que representa um tanque com líquido inflamável é uma qualidade inerente a ele. Não se altera! O que aumenta ou diminui é o risco de ser atingido por sua explosão, por exemplo, em função da proximidade com ele, se mais, ou menos distante.

Assim, a nossa legislação determina: se é um risco específico, além de orar, há que se implantar as medidas preventivas previstas em nossa legislação; se é um risco da própria vida humana, peça a benção.

Isso pode até não ajudar em nada na definição da presença ou ausência do risco quando fizer o próximo PPRA, PCMSO, LTCAT, Laudo Ergonômico, etc. Mas, ao contrário, uma coisa é certa: sempre que um risco estiver presente em um destes documentos, não tenha dúvida, faça alguma coisa além de orar!

Agora, a benção nunca é demais.

Autor: Dr. Lenz Alberto Alves Cabral (MG) – Médico do Trabalho, Especialista em Ergonomia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Professor convidado da Pós-Graduação em Medicina do Trabalho da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Diretor da PROERGON – Assessoria e Consultoria em Segurança e Saúde do Trabalhador / Ergonomia, autor do livro “Abre a CAT?” (Editora LTr). Contato: www.proergon.com.br

O Dr. Lenz escreve mensalmente para o SaudeOcupacional.org, na “Coluna do Lenz”.

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