“Trabalhar em shopping é foda.” Assim começa o desabafo escrito por Estefânia Rosa , 22, que viralizou no Facebook em dezembro de 2015. Exatos dois anos depois, outra vendedora republicou este mesmo texto e acrescentou uma foto sua chorando. De novo o conteúdo viralizou, desta vez com números ainda maiores: 225 mil reações, quase 100 mil compartilhamentos e 50 mil comentários.
Tamanha identificação mostra o desafio enfrentado pela função, que no final do ano pode ganhar ares sombrios.
“Por trás desse clima agradável de compras, promoções, Papai Noel e consumismo existem milhares de trabalhadores explorados e depressivos.” É assim que termina o post de Estefânia, que, duas semanas após a publicação, largou a vida de vendedora de shopping (leia mais abaixo).
O UOL entrevistou vendedores e ex-vendedores, que contam as principais dificuldades desse trabalho.
‘Eles tratam os vendedores como serviçais’
Em dois vídeos postados em seu canal no YouTube , as vendedoras Leiliane Domingues, 31, e Luiza Filgueiras, 24, intitulam a categoria como de “sofredoras” e relatam o que acontece do outro lado do balcão.
“Trabalhamos mais horas para bater as metas e em datas comemorativas dobramos o expediente, mas isso não é problema. O pior é a relação com os clientes. Eles tratam os vendedores como serviçais, como alguém que está abaixo deles na pirâmide do mundo [risos]”, afirma Leiliane, funcionária de uma loja de acessórios femininos em um shopping de Florianópolis (SC).
Segundo ela, é difícil lidar com a maioria dos clientes. “Há pessoas maravilhosas, mas muitos gostam de tratar mal, parece que faz bem para o ego. Chutaria que entre 60% e 70% têm esse comportamento.”
‘Dizem que, antes, o vendedor estendia um tapete vermelho para os clientes. Hoje, nós somos o tapete, é assim que eles nos veem.’
Leiliane Domingues
Vendedora há cerca de dez anos, ela cita as atitudes mais irritantes. “A pessoa pode não saber interpretar um texto, fazer uma soma, mas acha que sabe tudo sobre direito. E que pode tudo: trocar uma roupa comprada há seis meses ou algo que estragou. Nesses casos, achincalham a vendedora, que mesmo humilhada tem de sorrir.” Ela diz ter passado por “incontáveis” situações desse tipo, mas faz a ressalva: “Nunca apanhei”.
Citando o lema “tempo é dinheiro”, Leiliane critica quem faz da vendedora uma amiga ou psicóloga. “Não é possível dar tanta atenção para um único cliente. E, muitas vezes, quando depois nos encontramos de novo, na loja ou fora, elas fingem que nem nos conhecem.”
Outro problema, em sua opinião, é causado por quem “mata tempo” no shopping, indo às lojas e fazendo com que o vendedor perca, à toa, sua vez de atender. Ela defende que só entre nas lojas quem for realmente comprar e diz que, com “tantas ferramentas”, dá para pesquisar antes sobre os produtos e preços.
Formada em publicidade, ela diz gostar da loja em que trabalha, onde “não ganha mal”. Porém, acha difícil continuar muitos anos na mesma área, considerando que “sempre querem vendedores jovens e bonitos”. Para quem vai fazer compras no final do ano, manda um recado:
Não descontem suas frustrações nos vendedores de lojas. Isso é terrível
Leiliane Domingues
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Fonte: UOL