21 mar 2018

Médicos do Trabalho e Gestores de empresas estão “prontos” para receber as gerações Y e Z?

postado em: Coluna do Puy

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Impacto de gerações no mundo corporativo: Médicos do Trabalho e Gestores de empresas estão “prontos” para receber as gerações Y e Z?

No mundo corporativo, um grande ativo da empresa é o capital humano. Os funcionários são os agentes transformadores do meio empresarial, trazem novas idéias e conceitos e viabilizam a missão e o objetivo da empresa na consolidação de uma marca.

Costumeiramente, constatamos neste meio uma mescla de trabalhadores que, dada à heterogeneidade das faixas etárias, temos várias gerações de empregados expressando valores e crenças assaz diversas entre si. Mas, de uma forma ou de outra, convergentes para alcançar o resultado que a empresa busca. Este resultado pode variar de acordo com a diretriz organizacional, do contexto de vida dos consumidores e da sociedade, mas, em suma, sintetiza-se por uma palavra: LUCRO!

E qual é o grande desafio da saúde ocupacional nestas corporações? É fazer com que estes trabalhadores se identifiquem com a empresa, busquem significado no trabalho, produzam e tragam idéias (ou mesmo ideais) novas para as empresas.

Como Médico do Trabalho constato nitidamente o perfil destes trabalhadores por geração e como cada um “enxerga” o seu labor. Vejamos as gerações:

  1. Tradicional (até 1945):

Atualmente, compõe uma pequena fração de trabalhadores, pois muitos deles hoje possuem 73 anos ou mais. Frequentemente estão nos postos de liderança, chefia ou mesmo alto escalão das empresas. É a geração que enfrentou a segunda guerra mundial e passou pelo tumultuado momento pós Grande Depressão. Com os países arrasados, precisaram reconstruir o mundo e sobreviver. São práticos, dedicados, gostam de hierarquias rígidas, ficam bastante tempo na mesma empresa e sacrificam-se para alcançar seus objetivos.

  1. Baby Boomers (1946 a 1964): A geração da “TV”

São trabalhadores que variam de 54 a 72 anos. Estão no ápice de suas carreiras profissionais, costumeiramente. A ascensão da televisão moldou o comportamento dessa geração, visto que ela servia como mensageira e mobilizadora, e ainda retratava a juventude como um grande acontecimento. Essa geração participou da revolução dos anos 1960, o que mudou não só o papel das mulheres na sociedade, mas também o papel dos jovens. Eles desenvolveram sua própria cultura, pelo fato de existir um grande abismo entre eles e seus pais. Devido a isso, criaram seu estilo de vida próprio e tinham a televisão como principal ferramenta de comunicação.  Dessa geração surgiram os ideais de liberdade, o feminismo e os movimentos civis a favor dos negros e homossexuais. O comportamento hippie também surgiu nessa época e junto a ele, protestos contra a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã. No Brasil, a geração foi marcada pelos festivais de música, que eram uma forma de expressão político-ideológica dos jovens diante da repressão e censura da ditadura militar.

São os filhos do pós-guerra, que romperam padrões e lutaram pela paz. Já não conheceram o mundo destruído e, mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na boa educação dos filhos. Têm relações de amor e ódio com os superiores, são focados e preferem agir em consenso com os outros. São pessoas que dedicaram (ou dedicam) sua vida ao trabalho. Por conseguinte, tem como grande característica a constante ausência na criação dos filhos provendo materialmente os anseios dos filhos.

  1. Geração X (1965 a 1982):

São os trabalhadores que possuem hoje entre 36 a 53 anos.

Essa geração viveu em uma sociedade que havia descrença no governo, falta de confiança na liderança, apatia política, aumento do divórcio e do número de mães que transformaram a maneira de se relacionar com a sociedade. Foi a partir dessa geração que surgiram as preocupações com a destruição ambiental e as questões ecológicas. Este foi o início da Internet e o fim da Guerra Fria, outra característica cultural marcante da Geração X.

Nesse período, as condições materiais do planeta permitem pensar em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação já podem tentar equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaram crises violentas, como a do desemprego na década de 80, também se tornaram céticos e superprotetores.

  1. Geração Y (1983 a 1995):

Esta é a geração de jovens que estão iniciando a vida profissional e possuem entre 23 a 35 anos.

Com o mundo relativamente estável, eles cresceram em uma década de valorização intensa da infância (são filhos dos pais “baby boomers”), com Internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores.

Ganharam autoestima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido em longo prazo. Neste aspecto, esta geração não se permite trabalhar por longo período na mesma empresa (sentem-se estagnados e desmotivados), estão procurando novos desafios constantemente. A visão de trabalho é instantânea e fluida e deve acompanhar a rapidez de seus anseios.

A geração Y respeita seus superiores, mas não cede de uma hora para outra. Sabem trabalhar em rede, mas ela não vê as relações em termos hierárquicos. O que eles querem dos chefes é oportunidade de aprendizado, responsabilidades e chances de melhorar o que fazem. Eles querem se afirmar e estão à vontade com os mais velhos – às vezes até um pouco à vontade demais! Isto gera conflito com a gerações mais tradicionais e “Baby boomers” que prezam a hierarquia, o cumprimento dos horários, o compromisso com as metas e a abnegação ao trabalho.

Mesmo sendo altamente individualistas e focados nas próprias recompensas, têm uma profunda consciência social, preocupação com o meio ambiente e com os direitos humanos. A maioria tem valores morais muito fortes e tentam viver por eles.

Como vemos é um grande desafio para as corporações harmonizar os valores e anseios de seus trabalhadores. Envolve quebra de paradigmas, gestão de pessoas (e porque não de problemas), e atuação do Médico do Trabalho deve ser muito cautelosa em cada circunstância.

Cada geração tem seus valores estampados em um contexto social amplo e, consequentemente, ouso dizer também que as gerações adoecem de forma diferente, conforme são conduzidas as diretrizes da empresa.

Eis que se inicia o ingresso da geração “Z” ao mercado de trabalho (menos de 23 anos de idade) … Os reflexos do comportamento da geração Z formarão o maior abismo geracional já registrado. Poucos modelos existentes são referenciais para estes jovens. Isso porque na cabeça deles, empresas precisam ser radicalmente éticas, acessíveis e singulares. Transparência absoluta, defesa veemente de causas reais e atuação rigorosa e constante como agentes de transformação serão condicionantes para que as empresas possam ter o direito de seguir existindo.

Finalmente, a singularidade irá exigir que cada consumidor seja reconhecido como único, justamente porque prevalece o “reino do eu”. Como o Z é hipercognitivo, capaz de transitar por múltiplas realidades, ele também é hiperpersonalista. Quer a experiência radicalmente customizada. Algumas características da geração Z:

1- PragmáticosEstes jovens são realistas ao extremo, práticos e em busca de satisfazer sua necessidade financeira e enriquecimento pessoal (no campo emocional e sensorial). São adeptos do pensamento lógico, autodidatas e responsáveis. Em resumo: vivem de forma pragmática.

2- Indefinidospara a Geração Z, o importante é não se definir. O “eu” é seu reino e seu lugar. Quebram e contestam vigorosamente todos os estereótipos e não ligam para definições de gênero, idade ou classe. Hipervalorizam o próprio eu, e por isso, desconstroem os rótulos, valorizando a identidade fluida. Exaltam a individualidade, entendem a diferença.

3- Conversadores – Um traço surpreendente dos novos jovens é que eles constroem e não rompem. Dialogam, entendem e agregam. São avessos à polarização, compreendem a diferença. O diálogo é a ferramenta e a rede, seu campo de conciliação. São ativistas, compassivos e ponderados.

4- Selfies reais – São autênticos e espontâneos, expõem suas fragilidades, intimidade explícita e valorizam a transparência.

5- Comunaholics – Os “Z’s” transitam por múltiplas comunidades e gostam de fazer parte de diversos grupos. Não importa a ideologia ou a corrente de pensamento. Sempre há um ponto de conexão entre as pessoas. Por isso, são radicalmente inclusivos, têm grande poder de mobilização e seu interesse se conecta amplamente com a diversidade.

6- Meme Thinkers – Claro, é uma geração que adotou um novo código universal, baseado em memes e emojis. Usam a linguagem por códigos para exercitar sua capacidade crítica com leveza e humor.

Em resumo, essa é a geração que busca a verdade acima de tudo. E, por consequência, será consumidora apenas do que for verdade. Os desdobramentos dessa busca são evidentes como nenhuma outra geração precedente.

Os “Zs” são realmente multitarefa: conversam com alguém, enquanto enviam Snaps para outro grupo em um show, chamam um Uber e enviam whats para o grupo da escola. A noção de tempo sequencial dá lugar ao tempo paralelo, conectado, mobilizável. E a vida em rede deve trabalhar para expurgar tudo o que é falso ou artificialmente criado ou comunicado.

As empresas e a Saúde ocupacional destas organizações estão preparadas para gerir todas estas gerações? Eis um grande desafio para nós Médicos do Trabalho e gestores das empresas.

Um grande abraço a todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.consumidormoderno.com.br/2017/09/22/caracteristicas-fundamentais-geracao-z/

http://www.revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87165-7943-219,00-GERACAO+Y.html

https://olhardigital.com.br/noticia/geracao_y_conheca_os_jovens_que_nasceram_junto_da_revolucao_tecnologica/17385

 

Autor: Rodrigo Tadeu de Puy e Souza – Médico. Advogado. Pós-Graduado em Medicina do Trabalho. Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: rodrigodepuy@yahoo.com. Site: www.pimentaportoecoelho.com.br

O Dr. Rodrigo Tadeu de Puy e Souza escreve periodicamente para o SaudeOcupacional.org, na “Coluna do Puy”.

Obs.: esse texto traduz a opinião pessoal do colunista Rodrigo Tadeu de Puy e Souza, não sendo uma opinião institucional do SaudeOcupacional.org.

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